sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Obra Prima

Cada olá é tão sonoro
Uma aria do teu peito
Cada gesto um movimento
Digno de Degas

Ah, uma vergonha
Uma pena, atentar
Não poderás jamais

Pois das grandiosas
Mais que belas firulices
Que de ti, eu platéia
Vislumbrei

Tu, criatura e criador
De uma obra prima
Que eu chamo amor

Só saberás o que se vê
Quando o outro mostrar
A ti toda tua cor

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Quero

Quero braços instantâneos
Longos e independentes
Quero pernas de metrô
De grande espaço, quero mente

Quero verdades indiscretas
Mentiras indizíveis
Quero entendimento
De grande sabedoria, quero nada

Quero imensas distâncias
Do tamanho de maquetes
Quero estradas de argila
De grande saudade, quero ver-te

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Vontade

O passo que me vem
Vacilante
Vem distante da minha mão
Bem de longe, disparate
Vem em vão

Não soubesse que me morre
A distância solidão
Tão medonha a noite
Que dos seus olhos escorre
Apavorante mão

Erga a mim, sem sequer saber
Erga a mão que toca
Haja força na coragem
Haja tempo no desejo
Faça força na vontade
Queira em mim o teu querer

Amanhece a vida
Permeia o braço
E o toque

Não mais distante, eu peço
Me vem o vento da esperança
Abre as asas que ele traz
O restante da sua paz

quinta-feira, 31 de março de 2016

Crítica: Zootopia - Essa Cidade é o Bicho



A mais nova animação dos Estúdios Disney trás de volta aos cinemas o que sempre podemos esperar de um filme Disney: algo para toda a família, piadas bem colocadas, personagens que vão grudar na nossas cabeças e, claro, uma mensagem muito bonita por trás de tudo.

Zootopia conta a história de Juddy, uma coelha que sonha em sair da sua cidade do interior e virar uma policial na cidade grande de Zootopia onde, ao ver dela, tudo é perfeito, as pessoas se respeitam e não há qualquer distinção ou problemas.
Apesar da vontade contrária de seus pais e de frases desmotivadoras de muitos outros animais, Juddy consegue alcançar seu sonho e se muda para Zootopia, sendo a primeira coelha policial da academia (muito para o espanto de todos os policiais, em sua maioria, animais grandes e fortes como ursos, leões, rinocerontes entre outros).
Para sua tristeza, Juddy se torna uma guarda de trânsito e Zootopia se revela um lugar bem diferente do que ela sempre sonhou. Há muitos problemas, muitas espertinhos e, principalmente, muito preconceito.
E esse é o ponto central da trama: o preconceito. Presas e predadores não se dão perfeitamente bem no mundo de Zootopia, apesar de terem evoluído a um ponto onde não se caçam mais. É visível a mensagem que o filme quer passar, transportando nossa sociedade para a sociedade do filme, com analogias ótimas e piadas muito bem inseridas (às vezes em coisas pequenas como nomes de lojas e marcas estampadas nas vitrines da cidade, todas com nomes alterados e referenciando animais).
Uma das primeiras cenas mais emblemáticas é quando Juddy conhece a raposa Nick, com quem contracena ao longo do filme. Ele está em uma sorveteria de elefantes, apesar de ser uma raposa, e o dono do lugar se recusa a atendê-lo, inclusive mostrando um cartaz que lhe dá esse direito, remetendo perfeitamente aos Estados Unidos da época da segregação racial, onde brancos podiam se recusar a oferecer serviço a negros.
Ao longo do filme, a narrativa tenta desconstruir outros preconceitos que parecem pequenos para quem talvez quase não sofra nenhum preconceito, mas que são quase gritantes para as minorias, como uma cena onde Nick chama Juddy de "coelhinha fofa" e ela alerta que ele não pode dizer isso, já que ele não é um coelho. Se fosse outro coelho, não haveria problema, mas ele é uma raposa. Podemos fazer uma ligação direta a frases e modos de minorias se chamarem entre si, mas que não é aceitável quando alguém de fora os chama como tal.
Quando o grande vilão do filme é revelado e seu plano também (que consiste em "nós como presas, somos maioria da sociedade e devemos colocar os predadores, que são minorias, em seu devido lugar"), denota uma realidade que estamos vivendo nos dias de hoje: as maiorias estão sobrepondo-se aos direitos das minorias, às vezes até de forma violenta, outras de forma velada.

Apesar de um roteiro fraco, às vezes previsível, Zootopia ganha pontos com seus personagens cativantes e suas piadas e referências à cultura de nossa sociedade (como a lerdeza dos departamentos de trânsito ou mesmo uma cena inteira sobre um chefão da máfia que remete, em muito, ao filme "O Poderoso Chefão"). Com uma animação bonita e um final satisfatório, é um filme da Disney como qualquer outro e que muito provavelmente não vá se destacar tanto quanto Frozen e outros grandes clássicos, mas que, no fim das contas, vale a ida ao cinema.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Livros com nomes grandes

Eu sei, você gosta
De livros com nomes grandes
Mas eu só escrevo
Curtinhos, nada elegantes

Não sei fazer "Todo mundo que vale a pena conhecer"
Não sei falar "Memórias póstumas de Brás Cubas"

Eu sei escrever tudo pequeno, duas palavras
Sei criar, com carinho, duas linhas

Eu economizo nas palavras
Pra te fazer sentir
Economizo no sorrir
Pra te fazer sonhar
Economizo no tocar
E espero, algum dia
Te fazer me amar

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Eu

Eu te quero
Eu te posso
Eu te gosto
Eu te solto
Eu te espero
Eu te volto
Eu te rio
Eu te digo
Eu te amo
Eu te ouço
Eu também

Então vem e não espera mais
Que de esperar já se tira a paz

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

A psicologia dos desenhos Disney


Uma das coisas que mais me fascina nos desenhos da Disney é sempre a mesma tecla: as mensagens por trás das histórias, o grande tema, a ideia e, principalmente, a psicologia da história.

Sim, a psicologia, porque analisar as animações da Disney não pode ser apenas de uma forma tão rasa como "a sereia que queria ser humana", "o leão que fugiu, voltou e vingou a morte do pai", "a nativa-americana que se apaixonou pelo colonizador europeu". Esses filmes têm muito mais profundidade do que se vê a primeira olhada.

A Pequena Sereia não discute apenas a teimosia e a paixão de uma adolescente, mas também a ruptura com o sistema patriarcal autoritário, representado aqui pelo Rei Tritão [o homem] e uma de suas filhas Ariel [a mulher], numa analogia de como o paternalismo dominante até então estava com os dias contados (inclusive esse é considerado o começo da revolução feminista nos desenhos Disney. Uma revolução bem leve, claro, mas era um começo em 1989).

O Rei Leão discute, além da vingança pela morte do pai, temas como o abandono da imaturidade juvenil através do momento em que se assume responsabilidades. Simba volta para sua terra quando ele descobre que ela está morrendo devido a uma má administração de seu tio Scar. O filme, se bem analisado, ainda fala de problemas como a corrupção advinda do poder absoluto.

Pocahontas, um grande filme feminista (perdendo por muito pouco para Mulan, esse sim o ápice feminista da Disney na década de 1990), mostra algo que se mostrava cada vez mais recorrente nas animações Disney: a mulher que escolhe seu destino, ao contrário de ser empurrada para ele. Ariel fugia das ordens de seu pai, Bela não se conformava com a vida pacata de sua aldeia, Pocahontas não queria se casar com Kokuan, Mulan queria lutar pelo seu país (casar também estava longe de seus planos).

Podemos ver aqui uma progressão do feminismo ao longo de 10 anos de filmes Disney. Da rebeldia da sereia, em 1989 (A Pequena Sereia), passando pela busca pelo conhecimento e por algo maior em 1991 (A Bela e a Fera), a inconformidade com ter de se casar por obrigação em 1995 (Pocahontas) e, novamente, a inconformidade com a posição social estabelecida para a mulher em 1998 (Mulan). Toda essa nova leva de princesas Disney questionava o estigma da norma social para a mulher, pregado até então (inclusive nos antigos desenhos Disney ao longo do século XX).

Isso era apenas um retrato da sociedade que se firmava. Os filmes hollywoodianos dos anos 90 também eram feministas. Pegue qualquer história básica do cinema nos anos 90 e lá estará a mulher trabalhadora, dona de si própria que até se apaixona, claro, mas que o foco de sua vida não é o casamento apenas. Ela não quer ser dona de casa, ela quer se dona de si.

Até mesmo nos filmes Disney onde o centro não era uma Princesa, mas sim um Príncipe (nos desenhos voltados para o rapaz), vemos um papel mais ativo da mulher, como em Hércules (onde temos Meg, uma personagem feminina forte e que é, a princípio, um artifício para tapear Hércules [a ideia da mulher-objeto], mas quando se apaixona pelo semi-deus, ela se rebela contra seu mestre [a inconformidade da mulher vista como um objeto]), ou em O Corcunda de Notre Dame, com a cigana Esmeralda que protege e se preocupa com Quasimodo, que não é nenhum príncipe encantado.

Os anos 2000/10 elevaram ainda mais a ideologia feminista das Princesas Disney, com o não tão aclamado A Princesa e o Sapo, onde temos uma mulher (a primeira princesa negra da Disney) trabalhadora e que deseja, acima de tudo, crescer na vida. Ter um príncipe em sua vida é o último de seus sonhos. Logo em seguida foi a vez de Enrolados, onde uma Rapunzel sonha, acima de tudo, com a liberdade e não com o casamento.

Por fim, temos o que é, ao meu ver, a animação mais feminista de todas no espectro Disney: Frozen. Um filme onde o foco é, essencialmente, em duas irmãs. Duas visões distintas sobre a mulher: uma que almeja se casar (a visão antiquada da Disney) e uma que sabe que o amor não é tão simples assim. O filme não deixa tão raso a ideia do porquê Anna querer tanto se casar, mas podemos perceber uma necessidade quase compulsiva nela e, inclusive, carência, justamente por ter sido prisioneira dentro de seu palácio por toda sua vida, sem nenhum afeto vindo da única parte viva de sua família: sua irmã Elsa. Já a frieza e incredulidade de sua irmã se dá por um medo plantado nela pelos pais.

Eu precisaria de uma postagem inteira somente para analisar a psicologia tão profunda de Frozen.

O filme ainda discorre muitos temas como o amor-cego, o grande problema das paixões repentinas adolescentes, o desenvolvimento do amor como um sentimento demorado e complexo, e não algo simples como Hollywood gostava de mostrar, mas, principalmente, o maior tema de todos: o verdadeiro e mais importante amor é o fraternal. O que salva Anna não é o beijo do príncipe encantado, mas o amor de sua irmã.

A evolução de ideologias na mídia é um processo que acompanha a sociedade. A psicologia Disney não é algo aleatório e solto. Todos os filmes são muito bem pensados, com narrativas muito bem planejadas e cheia de particularidades relevadas pelo olho do espectador comum.

Fica aqui um convite a você, leitor, para rever seus filmes Disney preferidos e tentar analisar a profundidade que essas animações querem nos passar.

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Mulher dá vida

Mulher dá vida
E ainda há quem duvida
Há quem pareça não lembrar

Mulher dá, vida
Só por dar não a torna
Mulher da vida

Mulher, vida
E ainda há quem ouse questionar
Pensando que mulher é menor
Seja por isso, aquilo, acola

Mulher é o mesmo que eu
E se eu posso me mandar
Quem vocês pensam que são
Pra não deixar a mulher falar?

Lembrem-se: mulher dá vida
Se não fosse por mulher, vida
Nem aqui falando isso
Você estaria